Por: Cláudio
Márcio Rebouças da Silva[1]
Há uma herança da Reforma Protestante do
século XVI, extremamente relevante, a qual precisa ser discutida e atualizada
no século XXI, ou seja, me refiro a teologia da justificação. O que é
isso? Ora, em um contexto social em que a ideia de Deus gerava sociabilidades,
valores e modos de ser, o medo de Deus e a tentativa de (por méritos próprios)
alcançar êxito era muito comum.
Desta forma, pensava-se que a salvação era
obra humana e deveria apenas cumprir um conjunto de regras e dogmas como sinais
dos desígnios de Deus. Assim sendo, “comprava-se a salvação” através do grande
mercado da fé. Será que não há alguma semelhança com que encontramos hoje no
Brasil e na América Latina realizado majoritariamente por grupos
neopentecostais? Ora, quem ariscaria dizer que a “teologia da prosperidade” não
funcionou conosco?
Com efeito, a chave interpretativa bíblica
da justificação aponta para o grande e real amor de Deus revelado através de
Jesus de Nazaré na cruz do calvário. “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro”
(1 João 4.19). “Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, fui eu
que os escolhi para que vão e deem fruto e que esse fruto não se perca. Isso a
fim de que o Pai lhes dê tudo o que pedirem em meu nome”. (João 15:16)
Devemos nos lembrar que “porque pela
graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus”
(Efésios 2:8). E ainda: “porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para
que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (João
3:17). De fato, “não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas
devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do
Espírito Santo” (Tito 3:5).
Em um contexto sócio-histórico em que
comercializam a fé, anunciar que Deus não deseja nosso dinheiro é uma mensagem
profética. “Sacrifício e oferta não quiseste; os meus ouvidos abriste;
holocausto e expiação pelo pecado não reclamaste. Então disse: Eis aqui venho; no rolo do livro
está escrito de mim: Deleito-me em fazer
a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração” (Sl
40.6-8).
É importante salientar que mesmo
sendo justificados por Jesus de Nazaré, isso não significa que não
enfrentaremos dias difíceis. A Bíblia nos ensina que: “neste mundo vocês
terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo" (João 16.33).
A experiência da fé nos garante que: “porque estou certo de que nem a morte,
nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o
presente, nem o porvir, 39 nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra
criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso
Senhor!” (Rm 8.38-39).
Desta maneira, seguimos perseverando no
caminho. Como sugere Raul Seixas: “tente
outra vez!” Somos carregados por utopias esperançosas e revolucionárias,
assim sendo, Mario Quintana nos lembra: “se as coisas são inatingíveis...
ora! Não é motivo para não querê-las...Que tristes os caminhos, se não fora. A
presença distante das estrelas!”.
Caminhamos com fé em razão de sairmos da
morte e termos experimentados a vida em abundância. “Eu vim para que tenham
vida, e a tenham com abundância” (João 10.10b). Jesus de Nazaré é a nossa
razão de viver. Ele nos reconciliou! A espiritualidade reformada e ecumênica
nos transforma de dentro para fora. Essa é a nossa tarefa como IPU, ou seja,
despertar nos outros o sagrado que há dentro delas, uma vez que, cada um(a)
deve encarar seus próprios desafios e superá-los. Como assinalou Rubem Alves: “quem
tenta ajudar uma borboleta a sair do casulo a mata. Quem tenta ajudar um broto
a sair da semente o destrói. Há certas coisas que não podem ser ajudadas. Tem
que acontecer de dentro para fora”. Como anda sua vida? Deus pode te ajudar
você. Ouça o convite de Jesus no evangelho: “vinde a mim, todos os que
estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e
aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso
para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus
11:28-30).
Meus irmãos e minhas irmãs, pensar a
abordagem teológica da justificação é saber que somos amados por Deus e
que temos nova vida através da fé em Jesus (o camarada de Nazaré). Entretanto,
saber que o mérito da salvação não é nosso, ou seja, não é fruto de nossas
ações, não significa levar uma vida sem regras, sem metas e de qualquer jeito.
Suspeito que é muito ao contrário, pois, a compreensão da graça de Deus deve
nos levar a um compromisso radical com o projeto do Reino instaurado por Jesus
Cristo. Sigamos firmes! Este é o tempo da reconciliação. “Se quando éramos
inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho,
quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida! Não
apenas isso, mas também nos gloriamos em Deus, por meio de nosso Senhor Jesus
Cristo, mediante quem recebemos agora a reconciliação” (Romanos 5:10-11).
Como abaliza são Francisco de Assis:
Senhor,
fazei-me instrumento da vossa paz
Onde
houver ódio, que eu leve o amor
Onde
houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde
houver discórdia, que eu leve a união
Onde
houver dúvida, que eu leve a fé
Onde
houver erro, que eu leve a verdade
Onde
houver desespero, que eu leve a esperança
Onde
houver tristeza, que eu leve a alegria
Onde
houver trevas, que eu leve a luz.
Ó
mestre, fazei que eu procure mais consolar do que ser consolado
Compreender
do que ser compreendido
Amar
que ser amado
Pois,
é dando que se recebe
É
perdoando que se é perdoado;
E
morrendo que se vive
Para
a vida eterna
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