Por: Cláudio
Márcio Rebouças da Silva[1]
Uma das chaves de leitura deste texto é o “conflito
entre a natureza humana e a vontade de Deus”. Desta maneira, encontramos o
humano perdido em seu pecado e um Deus que (por amor) oferece reconciliação e
nova vida. Uma abordagem sociológica (que não é o objetivo aqui) nos levaria a
indagação: se a natureza humana não se limita a aspectos biológicos, mas, a um
construto social, psíquico e histórico, como identificar a suposta “vontade de
Deus”? Que humano é esse e como o mesmo é capaz de revelar isso a outros
humanos? Bem, há aqui relações de poder cheio de ambivalências que podem gerar
vida e morte.
Todavia, o objetivo aqui (além de fazer
pensar) é encontrar caminhos que possam nos humanizar mais. Segundo Guimarães
Rosa: "o que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar
alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre no meio da tristeza!”.
Desta maneira, o que de fato esperamos em Deus? Rubem Alves aponta que as pessoas
“não querem Deus, querem um milagre”! Se é verdade, qual milagre
precisamos? Ou seja, é algo estritamente individual ou coletivo? Bem, esperar
nem sempre é algo bom ou fácil, pois, diante de uma sociedade imediatista,
lembrar que a vida é feita por processos sócio-históricos é um grande desafio.
Há um tempo determinado para todas as
coisas (nos aponta a narrativa bíblica), assim sendo, nem toda alegria e ou dor
serão para sempre. Ora,
diante dessa realidade de pandemia do COVID-19, somos convidados a (re)pensar a
relação Igreja e Sociedade. Somos obrigados a (re)criar nossa espiritualidade. Suspeito
que devemos ter fé e coragem para seguir como nos ensinou Paulo Evaristo
Arns. O apóstolo Paulo disse que não devemos esquecer da fé, esperança e do
amor.
“Das profundezas a ti clamo, ó SENHOR.
Senhor, escuta a minha voz; sejam os teus ouvidos atentos à voz das minhas
súplicas”
(Salmos 130:1,2). O que nossa voz diz a Deus? Como dizemos? O que Ele nos
responde? Como nos responde? Carrego muitas perguntas na cabeça e, por vezes,
encontro respostas sempre em fluidez. E você que está lendo tem encontrado suas
respostas? Precisamos desenvolver uma fé madura.
"Deus
não é mais somente aquele que me dá belos sentimentos. Eu me abro para Deus e
caminho ao seu encontro, com os sentimentos que tenho agora, embora esses
sentimentos não sejam mais tão profundos. Aferro-me a Deus, aproveito para orar
e meditar. Mas não espero sentir euforia em todos os momentos de oração. Fico
satisfeito com o que tenho agora. Quando sinto o vazio, sinto-me vazio. Se
sinto a proximidade de Deus, sinto-me grato" (Anselm Grün).
“Aguardo ao Senhor; a minha alma o
aguarda, e espero na sua palavra” (Salmos 130:5). Onde encontrar sua
Palavra? Lembremos da recomendação do biblista Carlos Mesters “antes da
bíblia a vida”. “Porque não há outra forma de falar sobre Deus a não ser
falando sobre nós mesmos. Deus é um espelho no qual a imagem da gente aparece
refletida com as cores da eternidade." (Rubem Alves).
Eu e Jussiana (minha esposa) temos o
costume de enviar um para o outro inquietações, reflexões, medos. Ela me
mandou: “um dia acordei e o mundo parecia completamente diferente. As
pessoas estavam com medo uma das outras. Eram amigos e amigas, familiares,
colegas de trabalho, irmãos da fé! Começamos a nos trancar nas casas, passar
mensagens de pânico, cuidar da higiene de forma exacerbada, prender os idosos e
as crianças, esvaziarmos as igrejas, fechar as escolas e evitar o comércio.
Era o isolamento social... elemento
indispensável para controlar a pandemia!
Achamos
então que a fé poderia ser desenvolvida em casa, as salas de estar poderiam
virar salas de aula, a Netflix substituiria os cinemas, estocar alimentos
resolveria as saídas ao comércio e os idosos ficariam felizes com os poucos
moradores do lar! Não!
Estávamos
errados! O isolamento social não é bom, embora necessário! Estamos fazendo
sacrifícios! Não é verdade que não queremos trabalhar e estamos gostando de
ficar em casa! Isso não é descanso! Nosso corpo dói da carga pesada que
carregamos todos os dias ao ouvir noticiários de infectados e óbitos. Nossa
mente não consegue produzir em meio ao medo. Queremos voltar a sorrir!”
Encerro essa prédica com Anselm Grün ao
dizer: "devemos confiar que Deus equilibra tudo o que está em nós, que
muitas vezes não conseguimos equilibrar. Pedimos a Deus – por assim dizer, ao
maestro – que faça os muitos tons em nós soarem juntos, de modo que se forme um
som agradável para todos os ouvintes".
Somando-se a isso lembro a você que o maestro
distribuiu lindos e importantes instrumentos em nossas mãos. Você não é mais
capaz de produzir música, alegria e esperança? Venha e não fique de fora, pois,
breve iremos dançar-sorrir! A minha alma anseia pelo Senhor. Ele nos amou
primeiro nos colocando no colo e sussurrando em nossos ouvidos cantigas de
ninar. O Deus que é mistério, cantava e sorria ao olhar nosso rosto dizendo: tu
és meu!
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