domingo, 29 de março de 2020

ESPERANDO EM DEUS...


Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1]

Uma das chaves de leitura deste texto é o “conflito entre a natureza humana e a vontade de Deus”. Desta maneira, encontramos o humano perdido em seu pecado e um Deus que (por amor) oferece reconciliação e nova vida. Uma abordagem sociológica (que não é o objetivo aqui) nos levaria a indagação: se a natureza humana não se limita a aspectos biológicos, mas, a um construto social, psíquico e histórico, como identificar a suposta “vontade de Deus”? Que humano é esse e como o mesmo é capaz de revelar isso a outros humanos? Bem, há aqui relações de poder cheio de ambivalências que podem gerar vida e morte.

Todavia, o objetivo aqui (além de fazer pensar) é encontrar caminhos que possam nos humanizar mais. Segundo Guimarães Rosa: "o que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre no meio da tristeza!”. Desta maneira, o que de fato esperamos em Deus? Rubem Alves aponta que as pessoas “não querem Deus, querem um milagre”! Se é verdade, qual milagre precisamos? Ou seja, é algo estritamente individual ou coletivo? Bem, esperar nem sempre é algo bom ou fácil, pois, diante de uma sociedade imediatista, lembrar que a vida é feita por processos sócio-históricos é um grande desafio.
Há um tempo determinado para todas as coisas (nos aponta a narrativa bíblica), assim sendo, nem toda alegria e ou dor serão para sempre. Ora, diante dessa realidade de pandemia do COVID-19, somos convidados a (re)pensar a relação Igreja e Sociedade. Somos obrigados a (re)criar nossa espiritualidade. Suspeito que devemos ter fé e coragem para seguir como nos ensinou Paulo Evaristo Arns. O apóstolo Paulo disse que não devemos esquecer da fé, esperança e do amor.
“Das profundezas a ti clamo, ó SENHOR. Senhor, escuta a minha voz; sejam os teus ouvidos atentos à voz das minhas súplicas” (Salmos 130:1,2). O que nossa voz diz a Deus? Como dizemos? O que Ele nos responde? Como nos responde? Carrego muitas perguntas na cabeça e, por vezes, encontro respostas sempre em fluidez. E você que está lendo tem encontrado suas respostas? Precisamos desenvolver uma fé madura.
 "Deus não é mais somente aquele que me dá belos sentimentos. Eu me abro para Deus e caminho ao seu encontro, com os sentimentos que tenho agora, embora esses sentimentos não sejam mais tão profundos. Aferro-me a Deus, aproveito para orar e meditar. Mas não espero sentir euforia em todos os momentos de oração. Fico satisfeito com o que tenho agora. Quando sinto o vazio, sinto-me vazio. Se sinto a proximidade de Deus, sinto-me grato" (Anselm Grün).
“Aguardo ao Senhor; a minha alma o aguarda, e espero na sua palavra” (Salmos 130:5). Onde encontrar sua Palavra? Lembremos da recomendação do biblista Carlos Mesters “antes da bíblia a vida”. “Porque não há outra forma de falar sobre Deus a não ser falando sobre nós mesmos. Deus é um espelho no qual a imagem da gente aparece refletida com as cores da eternidade." (Rubem Alves).
            Eu e Jussiana (minha esposa) temos o costume de enviar um para o outro inquietações, reflexões, medos. Ela me mandou: “um dia acordei e o mundo parecia completamente diferente. As pessoas estavam com medo uma das outras. Eram amigos e amigas, familiares, colegas de trabalho, irmãos da fé! Começamos a nos trancar nas casas, passar mensagens de pânico, cuidar da higiene de forma exacerbada, prender os idosos e as crianças, esvaziarmos as igrejas, fechar as escolas e evitar o comércio.
Era o isolamento social... elemento indispensável para controlar a pandemia!
Achamos então que a fé poderia ser desenvolvida em casa, as salas de estar poderiam virar salas de aula, a Netflix substituiria os cinemas, estocar alimentos resolveria as saídas ao comércio e os idosos ficariam felizes com os poucos moradores do lar! Não!  
 Estávamos errados! O isolamento social não é bom, embora necessário! Estamos fazendo sacrifícios! Não é verdade que não queremos trabalhar e estamos gostando de ficar em casa! Isso não é descanso! Nosso corpo dói da carga pesada que carregamos todos os dias ao ouvir noticiários de infectados e óbitos. Nossa mente não consegue produzir em meio ao medo. Queremos voltar a sorrir!”
Encerro essa prédica com Anselm Grün ao dizer: "devemos confiar que Deus equilibra tudo o que está em nós, que muitas vezes não conseguimos equilibrar. Pedimos a Deus – por assim dizer, ao maestro – que faça os muitos tons em nós soarem juntos, de modo que se forme um som agradável para todos os ouvintes".
Somando-se a isso lembro a você que o maestro distribuiu lindos e importantes instrumentos em nossas mãos. Você não é mais capaz de produzir música, alegria e esperança? Venha e não fique de fora, pois, breve iremos dançar-sorrir! A minha alma anseia pelo Senhor. Ele nos amou primeiro nos colocando no colo e sussurrando em nossos ouvidos cantigas de ninar. O Deus que é mistério, cantava e sorria ao olhar nosso rosto dizendo: tu és meu!




[1] Prédica (Esperando em Deus) feita em 28-03-2020 na IPU de Muritiba-BA baseado no Sl 130.


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