domingo, 26 de abril de 2020

Em tempos de pandemia, a Palavra ilumina o caminho.


Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho. Sl 119.105

Por: José Augusto Amorim Jr.[1]

            O mundo tem sido duramente atingido pelo Coronavírus. A humanidade atravessa um “deserto” ou um “vale das sombras da morte”. Medo, sofrimento, tristeza, apreensão, luto nunca estiveram tão presentes em nossos cotidianos. E, neste pedaço sombrio da história, como a Palavra de Deus tem iluminado nosso caminho! Nela temos encontrado alento, sustento, orientação.
            Ao longo da Quaresma (seguindo o calendário litúrgico e lecionário reformado), rememoramos os 40 dias de Jesus no deserto. Deserto: lugar da Palavra... Ali, ao lidar com as tentações, Jesus as rejeita a partir da Palavra comunicada pelas Escrituras, “está escrito” ... (Mt 4: 1-11) Assim Jesus rejeitou também as manipulações das Escrituras apresentadas pelo diabo, que o convidavam à arrogância e ao abuso de poder.
Desafiado a jogar-se do alto do templo, confiado na proteção de anjos enviados por Deus, Jesus se nega a uma fé irresponsável e responde: “Não tentarás o Senhor teu Deus”. Inspirados por esta Palavra, sem deixar de crer na Providência Divina, começamos a tomar as medidas preventivas necessárias (não abrir os templos foi uma delas) para evitarmos a propagação do Covid 19. Diferente de algumas igrejas e lideranças cristãs que insistem, por estranhos interesses, em abrir os templos e colocar em risco a saúde das pessoas, em nome de uma fé que despreza a ciência, o amor ao próximo e o bom senso.
No seu encontro com o homem cego de nascença (João 9), Jesus rompe com a noção, muito comum em sua época (e que até hoje se faz presente) de que doenças são consequência do pecado. “Nem ele pecou, nem seus pais, mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus”, responde Jesus à indagação dos discípulos. E a manifestação das obras de Deus foi a cura, a solidariedade e uma nova vida para aquele homem. Não importava julgar, mas buscar solução para o problema. Para completar, isto se deu num sábado, contrariando a lei de Moisés, segundo os fariseus.
 Este trecho nos fez refletir que esta pandemia não se trata de castigo de Deus por pecados desta ou de gerações passadas, que nosso foco deve ser como contribuir com a manifestação das obras de Deus, que se expressam na cura e cuidado com as pessoas. Por outro lado, a lei (o sábado) não pode servir à exclusão e à negligência com o ser humano, mas deve estar à serviço da inclusão (sobretudo dos(as) pequeninos(as)), da promoção da saúde e vida digna para todos(as). Isto serve desde a economia e política até os hábitos e ações mais corriqueiras.
Na passagem da ressurreição de Lázaro (João 11), encontramos o choro de Jesus, expressão de sua plena e profunda participação na fragilidade da condição humana. Um convite não a uma espiritualidade triunfalista e soberba, mas a uma espiritualidade humilde e que não perde a capacidade de se comover diante da dor do(a) outro(a). Ainda que não devamos sucumbir às tristezas, não podemos nos apartar da sensibilidade e compaixão, da “glória de chorar” (Los Hermanos). Sem isto nos desumanizamos.
Para ressuscitar Lázaro, Jesus promove um verdadeiro mutirão da Vida! Há os que tiram a pedra do túmulo, a poderosa palavra de Jesus, o próprio Lázaro que dá seus passos para fora da gruta, aqueles que lhe ajudam tirando as ataduras. Somos convocados (as), neste tempo da pandemia e para além dela, a participarmos de um amplo e solidário mutirão da Vida, na oração e ação diaconal, na voz profética e prevenção, na comunhão e no afeto (mesmo com o isolamento físico, através de um telefonema, whatsapp e afins). Nós e toda a família humana somos chamados (as) a este mutirão, na trilha da “paz e justiça irmanadas” (Silvio Meincke).
Na Páscoa, ao nos falar da Ressurreição de Jesus, a Palavra nos trouxe a potente mensagem da vitória da Vida sobre a morte, aqui e no porvir, animando nossa fé, esperança e alegria, acalentando nossos corações, encorajando-nos à missão! Palavra que apascenta nosso silêncio e sustenta quando nos faltam respostas frente aos dilemas da existência. Continue a ser a Palavra de Deus lâmpada para nossos pés e luz para nosso caminho nesta extremamente desafiadora travessia!

CEBI


[1] Presbítero da IPU de Itapagipe-BA.

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