O calvário de Jesus nos acena à
obediência ao Pai, mas também a sua escolha definitiva: a morte de cruz. A
paixão de Jesus é a culminância da sua união e da realização da missão que o
pai lhe delegou. A cruz, sinal de morte até então, assume nova simbologia, a
partir desta caminhada “estranha” feita por Jesus, reforçando o que o próprio
Jesus havia dito: “se o grão de trigo não cair na terra e não morrer,
permanecerá ele só, mas se morrer produzirá muito fruto” (Jo 12,24), como uma
forma de leitura do que viria lhe acontecer.
A sua paixão foi um ato de
liberdade. Não foi coagido a assumir, mas sua força espiritual e moral levou a
isso. Vemos, assim, que Ele vive e
determina a própria dialética da sua existência, ao mencionar em Jo 10,18 “a
minha vida ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou”. A
paixão de Cristo é expressão dessa afirmação de que ele dá livremente a sua vida,
de acordo com as circunstâncias em que
passou a viver após a aceitação da sua
missão.
A paixão de
Jesus foi consequência das suas ações. Não teria havido sexta feira da paixão
se Jesus não fosse movido pela compaixão. A compaixão em Jesus nascia do encontro,
do contato que tinha com os mais necessitados, e sobretudo, por ter assumido
para si a vida dessas pessoas em todas as suas dimensões: na alimentação, ao
perceber que aquela multidão está abandonada, ignorada na sua necessidade
básica e “compadeceu-se deles porque eram como ovelha que não tem pastor” (Mc
6,34) e diz aos discípulos que “deem eles mesmos de comer” (Mc 6,37); na discriminação de gênero ao perguntar: “mulher, ninguém te condenou” (Jo 8,10) ; na
saúde, “pegue seu leito e vai” (Jo 5,8);
no acúmulo de bens, “vai, vende tudo o que possui e dá aos pobres” (Mt 19,21); nos problemas emocionais, psíquicos e
espirituais mandando ao Geraseno que
volte para casa e conte aos seus tudo o que lhe tinha feito” (Lc 8,39) . Esses
e outros exemplos sintetizam o que Jesus veio trazer ao mundo e também geram a
perseguição dos seus opositores.
A atividade
essencial de Jesus era o cuidado, algo deixado de lado no seu tempo. Assim, Ele
demonstra palpavelmente seu modo de ser, chamando todos para si: “Vinde a mim,
todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre
vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração”. (Mt
11,28-29).
Este é um pouco o pano de fundo da paixão de
Jesus. Essa via dolorosa e de sofrimento
enfrentada por Jesus não aconteceu somente na sexta feira. As estruturas de
morte daquele tempo já planejavam com antecedência a morte de Jesus. Não
podemos pensar que a paixão era algo predestinado, mas fruto de sua escolha
pela vida. Tanto é que, nas tentações do deserto, Jesus faz a opção em
continuar com o projeto do Reino. O “Pai
se possível afasta de mim este cálice” (Mt 26,39, é o agravamento da sua
agonia. O processo de sofrimento terreno de Jesus abre a porta da acolhida de Deus,
especialmente, para com os que mais sofrem. Em tempos de coronavírus, todos
nós, pessoas que acreditam na força da fé e da esperança em Deus temos o dever
de agir e de pedir ao pai que livre desse cálice todas as pessoas que vivem em
situações de maiores vulnerabilidades a essa doença. É tempo de resgatar
aqueles valores que nos dão a identidade cristã os quais Jesus viveu e anunciou
e por isso morreu na cruz: a compaixão, a solidariedade e o cuidado.
Continuemos, todos juntos,
superando caminhos de morte e construindo caminhos de esperança e vida.
Rev. Luiz Pereira dos Santos
Igreja Presbiteriana Unida de
Caetité-BA
Ótimo texto
ResponderExcluirTmj 👣 🎯
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