Tenho me preocupado
nestes dias com os paradoxos que encontramos na jornada eclesiástica no que diz
respeito ao desejo de um crescimento e a linguagem que podemos-devemos utilizar
para ser eficaz-profética e coerente. Neste sentido, a meu ver, deve-se
preocupar no que e como é dito as coisas no púlpito (símbolo) nosso de cada
dia.
Ora, partindo do
pressuposto que a Igreja precisa estar no processo de se reformar
cotidianamente, que bíblia e cultura têm que dialogar, que uma suposta dimensão
mística do discurso não pode se afastar de uma práxis emancipatória dos
indivíduos-sociais, ainda pergunto com o Rev. João Dias: que estou fazendo se
sou cristão?
Pensando com Paulo
Freire, em que a educação transformaria vidas através de uma conscientização e
uma tomada de posição no que diz respeito a uma luta em favor da vida e contra
os dominadores do saber, isto é, discordando de uma leitura contextual de
Bourdieu que pensava a escola como o locus de reprodução da desigualdade social,
pode-se então perceber o caráter emancipatório que há na educação, na troca de
saberes. E, refletindo sobre a pedagogia de Jesus de Nazaré, é que me proponho,
de forma sucinta, problematizar alguns
pontos.
Para
que e ou quem serve a Igreja? Por que insistir em um paradigma excludente e
hierarquizado no discurso homogêneo dos púlpitos? Por que o demônio é sempre o
outro? Quando nos emanciparemos de um Cristo europeu? Quando valorizaremos
nosso chão e ritmos musicais? Quem disse que precisamos ser burros e ou
alienados? Quando participaremos da vida política da cidade em prol do bem
comum?
Têm-se
tantos modelos de homens e mulheres que celebraram a vida e partiram o pão nosso
em cada esquina e ou praça da cidade... Então, se temos tais exemplos de
comprometimento com a vida e a dignidade humana... Vamos nos calar? Vamos ser
representados por esses (essas) que ocupam a mídia? Definitivamente, NÃO!
Acredito-defendo
uma comunidade acolhedora e dialógica. Acredito que a mão que levanta para
adoração deve ser a mesma que estende ao necessitado no caminho. Acredito que a
voz que ora deve ser a mesma que denuncia as estruturas de morte e dominação
que estão em nossa volta. Sim! Acredito que o locus religioso pode-deve ser
diferente, mais leve, com mais poesia, arte e literatura... Outras vozes devem
conversar com os líderes e o púlpito precisa ser plural. CHEGA DESSA SOBERANIA
PASTORAL!
Seria
a Igreja só um instrumento de inculcação de valores dos mais velhos para os
mais jovens como fala Durkheim sobre a educação? Seria apenas o espaço da
docilidade do corpo? Da castração do prazer? Da hegemonia? Do ópio? Para mim,
não! A religião é e ou pode ser tudo isso, mas, não é só isso! O contrário de
todas essas questões também é possível! Mas, penso que também não seria só
isso!
Onde
quero enfim chegar? É o que você (leitor) pode perguntar... Eu te respondo
honestamente que não sei. Contudo, sigo meu caminho tentando recriar-me em diálogo
com o mundo, com a bíblia, com outras vozes que são também necessárias para dar
sentido e ou respostas aos indivíduos-sociais. Aqui em Muritiba-Ba, acredito
que o samba de roda e o reggae, assim como a capoeira devem ser observados com
mais respeito e carinho pelos protestantes históricos que buscam ferramentas
criativas para comunicar o Reino de Deus que emancipa e faz bem ao humano.
O camarada de Nazaré não se limitou
ao templo e sinagoga, ao contrário, utilizou uma pedagogia de ensino nos montes
e barcos, uma pedagogia que tocava feridos que eram marginalizados por lógicas
político-religiosas opressoras, que ouvia mulheres que não faziam parte da
agenda política, que comia e bebia com os considerados pecadores... Esse é o
meu maior paradigma! Mas, há tantos outros eficazes na jornada, não?
Evidente
que a tomada de posição não é tão simples assim no sentido de ser isso ou
aquilo. Entretanto, poderia perguntar: qual o lado que você vive com maior
intensidade? O que gera vida ou morte? A quem você serve? Por que e ou quanto?
Que
nossa escolha quase sempre seja a vida, nosso bem maior, não? Outr@s também não
precisam ter a garantia deste direito que historicamente foi negado? Acredito
que sim!
Por:
Cláudio Márcio
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