segunda-feira, 10 de setembro de 2018

LEMBRANÇAS E AUSÊNCIAS...


Falando de memórias, de saudades e dos 40 anos da nossa querida Igreja Presbiteriana Unida - IPU.
“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” Lm 3.21

Havia um jingle que era assim... o tempo passa o tempo voa e a poupança... continua numa boa..., a nossa juventude atual não ouviu e não conhece essa propaganda, que ficava soando em nossos ouvidos, e na nossa ingenuidade acreditávamos nela. E, por falar em tempo, sabemos que o tempo de Deus, (Kairós) não é o nosso. Por isso há um descompasso entre o nosso tempo (Kronos) e o tempo do Eterno.” Mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem, que passou, uma vigília dentro da noite.” Salmo 90.4 “Debaixo do céu há um momento para tudo, o tempo certo para cada coisa.” (Ec 3.1)
No dia 10 de setembro, completam-se quarenta anos, quando o meu pastor na época Revdo Cyro Cormack, o único pastor do Rio, esteve presente na fundação da Federação Nacional de Igrejas Presbiterianas (FENIP), em 1978, Atibaia- SP. Hoje, com 89 anos é membro do Presbitério Rio Novo - PRNV. Um grande número de fundadoras, e fundadores, já partiram, e estão ao lado do Pai.
Surgia uma Igreja que abarcava mulheres e homens sonhadores, de um futuro melhor para si, familiares, amigos e para toda a sociedade. Eram pessoas destituídas de ganância, de poder, de vaidade e com sede de justiça. Eram despojadas, engajadas e algumas perseguidas por um sistema arcaico e autoritário (ditadura militar). Acreditavam em um novo Projeto de “ser Igreja”. Igreja que pregasse “as Boas Novas em Jesus Cristo, ao indivíduo e à sociedade”, vivenciasse a igualdade, a fraternidade e a opção pelos mais pobres.
“Antes que qualquer árvore seja plantada ou um lago seja construído, é preciso que eles tenham nascido dentro da alma. Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles”. Rubem Alves.
Embarquei nesse sonho e nessa esperança com um grupo de juventude de algumas igrejas dos subúrbios do Rio. Nos reuníamos para discutir, debater e para vislumbrar a nossa inserção nesse movimento que nos atraia, praticamente às escondidas, uma vez que os pastores dos meus amigos/as, não haviam aderido a esse novo momento e a essa brisa leve que soprava, que era sair da IPB, para respirar novos ares e ter a esperança renovada.
Por volta de 1979/80, vieram ao Rio, o Revdo Joaquim Beato e a sua sobrinha, Revda Izaura Márcia Venerano, (companheira de luta e caminhada de toda uma vida, claro que tenho várias, mas ela foi a primeira, nesse novo contexto), para falar sobre a FENIP ao nosso grupo. Eram os primeiros representantes capixabas em terras cariocas. Fomos recepcionados e patrocinados pelo então jovem, na época, representante oficial, Presb. Carlos Fernando Palmer, na Union Church da Barra com um delicioso churrasco. Passamos um sábado inteiro, provando o maná que eles nos trouxeram de presente como aperitivo.
“Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha juntos é o começo da realidade”. Miguel de Cervantes – poeta.
Participamos do Encontro Nacional de Jovens da FENIP nos anos de 1980 a 1982, (tenho uma relíquia, que é um crachá de 1982), realizados nos estádios do Mineirinho, BH, e Ibirapuera - SP. Fui autorizada pelo meu pastor. Naquele tempo era assim, precisávamos de autorização para participar de “coisas” fora da Igreja. Era da FENIP, e esse nome soava meio que clandestino.
Bons tempos aqueles! Algumas amigas e amigos ficaram pelo meio do caminho, retornaram às suas origens, uma vez que seus pastores não aderiram aos ideais dessa “nova forma de ser Igreja” e permaneceram na IPB. Ficaram decepcionados, mas eram jovens e quem “mandava” na igreja local era o pastor e as lideranças do Presbitério.
As nossas Igrejas aqui do Rio de Janeiro foram recebidas oficialmente em uma Assembleia em julho de 1983, no culto de encerramento na Primeira Igreja de Vitória-ES. Eu havia sido ordenada Presbítera em janeiro do mesmo ano e era Seminarista. Foi um culto inesquecível. Alegria, participação e comunhão. Estávamos imbuídos de um mesmo sentimento, sentimento de pertença a uma Comunidade que vislumbrava o projeto do Reino, aqui e agora.
Em 1985, foi formada a Confederação Nacional de Jovens da IPU- CONAJIPU, e participamos da primeira diretoria. Éramos um grupo aguerrido que acreditava no potencial da nova Igreja, e na força da sua Juventude. Na época a IPU, era composta por 61 igrejas.
Participamos nesses últimos 35 anos de quase todas as Assembleias e acompanhamos o papel importante que a IPU tem desempenhado sob a direção dos Conselhos Coordenadores, junto às igrejas locais, aos organismos ecumênicos e a preservação dessa Igreja comprometida com a justiça social, herdeira da Reforma e testemunha fiel do Reino inaugurado por Jesus, o Cristo.
O nosso sonho não acabou, continuamos sonhando e realizando o que Deus tem colocado em nossas mãos para realizar. A esperança não feneceu. Pois apesar de vivermos atualmente, dias sombrios e maus, aonde o nosso povo tem voltado a não ter dignidade, acreditamos no poder e na força do Evangelho de Jesus, o Cristo libertador, que nos livra de todo tipo de amarras, de opressão e de exclusão.
Precisamos continuar a honrar e a ter sempre na memória, a luta, a garra, o sonho e a esperança dos nossos primeiros fundadores, mulheres e homens leais e fiéis ao Evangelho. Que almejavam uma Igreja solidária, libertária, ecumênica, inclusiva (sem discriminar ninguém), que estivesse inserida de fato e de direito na Sociedade, para que pudesse ser mais fraterna e solidária, com espaço para mulheres e homens de forma equitativa (creio que isso no nosso meio precisa ser revisto, somos maioria). Pois, apesar da Igreja ordenar mulheres ao sagrado Ministério e aos Sacramentos, ainda somos minoria entre as ordenadas/os.
Nos 40 anos de caminhada não podemos perder de vista os sonhos e a esperança que o Senhor da vida tem colocado na mente e no coração de todas e todos que fazem parte dessa Igreja, e louvá-lo pelas maravilhas que ele realizou, realiza e continuará a realizar no meio do seu povo.
O nosso Princípio de Fé e Ordem – PFO, no artigo 4º, do parágrafo XII, nos aconselha: “envolver-se, fraternal e livremente, em amor e serviço ao próximo, dentro e fora de suas comunidades. Reconhecer que, nenhuma barreira institucional humana pode obstar a ação do Espírito Santo, sinal do Reino de Deus na terra”.
A nossa gratidão e carinho a essa Igreja querida que nos tem acolhido, como um colo de mãe que acaricia, beija e protege a sua cria. Faço das palavras do educador Paulo Freire, as minhas:
“É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, é juntar-se com outros para fazer de outro modo...”.
Vamos esperançar querida IPU, e que as bênçãos do nosso Criador que é Pai e Mãe, sejam com todas as irmãs e irmãos dessa amada Igreja.
Revda Neusa Gomes Palmer - Tempo comum



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