Por: Cláudio Márcio R. da Silva[1]
“Os educadores,
antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam serem
especialistas em amor: intérpretes de sonhos” (Rubem Alves)
Um dia desses, na Escola Bíblica Dominical
( EBD), da Igreja Presbiteriana Unida (IPU) de Muritiba (cidade serrana do
Recôncavo da Bahia), na turma das crianças aconteceu algo extraordinário, isto
é, ao serem questionadas sobre a dimensão da fé e da oração, se já tinham uma
experiência e uma resposta de suas preces, uma criança disse: " Eu
tenho! Meu sonho era ter um carro de controle remoto. Pedi a Deus e, no Natal aqui da igreja,
imagina: ganhei esse presente! Deus
escutou minha oração não foi pró?".
Veja como é interessante essa
narrativa. Sim, o fenômeno religioso
também é um espaço de socialização, de comunhão, de afeto, esperança, de regras
e, não menos, de partilha. Evidentemente
que há aqueles leitores que dirão apressadamente: " uma criança fazendo
de Deus um ‘gênio mágico’ que atende os pedidos". Outros ainda: “isso
sim é uma criança de fé”. Calma! Você não conhece nossa comunidade e nossa
realidade. Vou te explicar um pouco.
Temos umas 10 crianças (filhos e filhas
dos irmãos e irmãs da igreja) e temos cerca de 30 que os pais e as mães não são
da igreja, assim, há crianças e adolescentes "periféricos" cheios de
necessidades econômicas (não apenas) que frequentam nossa comunidade e nos
desafiam bastante. Todo grupo é feito de regras, de códigos e interdições, assim
sendo, algumas dessas crianças e adolescentes (por olharem o mundo a partir de
outro prisma) tem nos “deixado de cabelo em pé”.
De fato, nos ensinam a planejar, a
elaborar novas abordagens pedagógicas.
Nos ensinam ao exercício da alteridade, da empatia e da compaixão. Nos
ensinam que precisamos estabelecer e desenvolver outras linguagens. Não abrimos
mão de uma abordagem cheia de afeto, de escuta e do abraço.
Na
realidade, suspeito, definitivamente, que as crianças nos humanizam mais e nos
tornam mais cristãos, ou seja, aqui a perspectiva de missão é de mão dupla como
apontou o saudoso Rev. João Dias de Araújo: “evangelizar humanizando e
humanizar evangelizando”.
Com efeito, a questão aqui não é necessariamente
sobre ter ou não ter fé através da prática de oração. Também não escrevi sobre
os desafios que enfrentamos na comunicação do Evangelho como questão central. Escrevi
este texto para dizer que a igreja além da preocupação com a “salvação da alma”,
deve salvar corpos originando dignidade, riso e esperança. Sejamos a resposta das orações das crianças,
que, assim como nós adultos, temos desejos e necessidades.
Vai menino brincar de carro e que Deus
conduza sua jornada!
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