quarta-feira, 17 de junho de 2020

Cheiro bom de terra molhada...


Por: Cláudio Márcio R. da Silva
Para dormir estes dias tenho colocado o som de chuva no celular. É uma experiência boa e tem me ajudado bastante. Isso porque “em paz me deito e logo pego no sono, porque, SENHOR, só tu me fazes repousar seguro” (Sl 4.8). Entretanto, tem dias difíceis para pegar no sono. A cabeça começa a fazer perguntas aparentemente bobas e, o sono que é bom, nada.
Fiquei a me perguntar; qual a razão do som de chuva no telhado gerar uma certa tranquilidade? Ora, não sou psicólogo para saber explicar possíveis caminhos atrás dessa resposta, mas, sou sociólogo, e como tal lembrei que a chuva também é um símbolo cheio de ambivalências entre a vida e a morte.

Com efeito, para quem depende dela para futura colheita o som dela será de festa. Tenho familiares que moram no sertão baiano e há testemunhos que quando se chove lá o povo vai para rua dançar, brincar e agradecer. Também encontramos nas religiosidades populares essas dimensões de fé, festa, chuva e colheita. Já para quem falta estrutura básica nos processos de urbanização, isto é, para quem precisa construir sua casa em barrancos na luta pela sobrevivência, a chuva é símbolo de perigo que cheira a morte. O que será o som da chuva para uma família que vive este contexto?
De fato, para mim que cresci e moro no interior da Bahia, em Muritiba (cidade serrana do Recôncavo), a chuva oferece calmaria cotidianamente.  Aqui há uma expressão que ao se dizer o riso e a memória são ativados: que cheiro bom de terra molhada! É cheiro de infância! É cheiro de bolo da vovó! É cheiro de café do vovô!
Bem, confesso que eu só queria dormir mesmo, mas, vez por outra, a cabeça é tão teimosa que não obedece aos olhos que insistem em ficar fechados. O que me resta? Escrever, pois, nas palavras sou curado. Hoje ouvirei sons orientais para dormir. Enfim, se possível, durma bem.



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