Por: Cláudio Márcio R. da Silva
Para dormir estes dias
tenho colocado o som de chuva no celular. É uma experiência boa e tem me
ajudado bastante. Isso porque “em paz me deito e logo pego no sono, porque,
SENHOR, só tu me fazes repousar seguro” (Sl 4.8). Entretanto, tem dias
difíceis para pegar no sono. A cabeça começa a fazer perguntas aparentemente
bobas e, o sono que é bom, nada.
Fiquei a me perguntar;
qual a razão do som de chuva no telhado gerar uma certa tranquilidade? Ora, não
sou psicólogo para saber explicar possíveis caminhos atrás dessa resposta, mas,
sou sociólogo, e como tal lembrei que a chuva também é um símbolo cheio de ambivalências
entre a vida e a morte.
Com efeito, para quem depende
dela para futura colheita o som dela será de festa. Tenho familiares que moram
no sertão baiano e há testemunhos que quando se chove lá o povo vai para rua
dançar, brincar e agradecer. Também encontramos nas religiosidades populares
essas dimensões de fé, festa, chuva e colheita. Já para quem falta estrutura
básica nos processos de urbanização, isto é, para quem precisa construir sua
casa em barrancos na luta pela sobrevivência, a chuva é símbolo de perigo que
cheira a morte. O que será o som da chuva para uma família que vive este
contexto?
De fato, para mim que
cresci e moro no interior da Bahia, em Muritiba (cidade serrana do Recôncavo),
a chuva oferece calmaria cotidianamente. Aqui há uma expressão que ao se dizer o riso e
a memória são ativados: que cheiro bom de terra molhada! É cheiro de infância!
É cheiro de bolo da vovó! É cheiro de café do vovô!
Bem, confesso que eu só
queria dormir mesmo, mas, vez por outra, a cabeça é tão teimosa que não obedece
aos olhos que insistem em ficar fechados. O que me resta? Escrever, pois, nas
palavras sou curado. Hoje ouvirei sons orientais para dormir. Enfim, se possível,
durma bem.
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