quinta-feira, 26 de novembro de 2020

PORQUE QUANDO ESTOU FRACO ENTÃO SOU FORTE

 

Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1]

 

Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro

Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro

(Belchior)


São mais de 170 mil vidas ceifadas pelo COVID-19 restando apenas choro e desesperança ao nosso redor. Parece que os pássaros matinais não cantam mais e que as flores não embelezam e perfumam nossa estrada. Onde estão as borboletas? Em nosso olhar é perceptível o medo e muitas dúvidas. O que e como fazer? O que parecia ser um mês para ser resolvido (abril) numa primeira percepção chegou até novembro. Como será o nosso Natal e o ano de 2021?

Quero contar uma pequena historinha para jogar um pouco de luz neste contexto caótico e tenebroso. Após uma vida bem vivida a velhice trouxe situações adversas e sofredoras. O que faz uma pessoa ao encontrar alguém que ama sofrendo? Isto é, em sua prece pede cura ou descanso para o doente? Quem tem ou vive perto de alguém num leito em casa ou num hospital sabe como é demasiadamente difícil(também) para quem cuida. Quem cuida de quem cuida?

Com efeito, uma prece não é só por isso ou aquilo. A voz de quem busca auxílio espiritual não é deslocada do contexto em que seus pés pisam. Chamou-me atenção uma narrativa que chegou aos meus ouvidos dizendo: “não pedia mais a cura, pois, ele sofria muito. Pedia o seu descanso, uma vez que, ele teve uma vida bem vivida e eu só quero agradecer por seu belo testemunho”.

Por mais que esse não tenha sido um caso específico de COVID-19 quero pensar no que compreendo como um amadurecimento da fé, uma vez que, em um paradigma “evangélico” que se relaciona com o sagrado como um “gênio da lâmpada” pronto para atender seus pedidos insaciáveis, da mercantilização da fé e dos consumidores de “bens espirituais” que barganham com Deus através de uma relação superficial e mesquinha, saber que há outras vozes torna-se relevante para lembrar aos que insistem em não reconhecer que o campo religioso cristão é múltiplo.

De fato, perceber a vulnerabilidade humana não é sinal de fraqueza, mas, de potência de vida. Porque quando estou fraco então sou forte (2 Cor 12:10b). Que bom que somos demasiadamente humanos cheios de limitações e contradições. Que bom também que temos capacidade de recriar-se constantemente para ser alguém melhor coletivamente em busca de justiça social e promoção da dignidade humana.

Não precisamos de heróis e heroínas dos quadrinhos e dos cinemas, pois, temos espelho e capacidade de olhar nossos avós, pais e responsáveis com um legado humano-divino simultaneamente. Cada leitor(a) tem um(a) professor(a), um Zé ou Maria no bairro, na igreja, no terreiro, no sindicato, na política, no chão da fábrica, na roça, na floresta, nas comunidades ribeirinhas...alguém que marcou sua trajetória e te inspira a ser melhor no esperançar.

O advento se aproxima e faço minha prece como sugere a canção popular: “arrumei a casa, preparei o coração - esperando sua chegada, tão sonhada - vesti o melhor sorriso - espalhei pelo chão - o perfume da rosa mais enfeitada - pra te colorir e te cobrir de bem querer”.  Para fé cristã esse é o momento de renovo das utopias e da humanidade. Diante dos dias difíceis oro com as palavras de Sine Calmon ao cantar: “hoje o céu amanheceu tão lindo-as crianças brincando as frutas caindo, caem. Quando caem espalham as sementes pela a terra - logo vai subir um verde lindo - agora é só regar, só regar”.



[1] Pastor da IPU de Muritiba (cidade serrana do recôncavo da Bahia).




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