Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.
Como está
escrito no profeta Isaías: Eis que eu envio o meu anjo ante a tua face, o qual
preparará o teu caminho diante de ti.
Voz do que clama
no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.
Apareceu
João batizando no deserto e pregando o batismo de arrependimento, para remissão
de pecados.
E toda a
província da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém iam ter com ele; e todos
eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
E João
andava vestido de pelos de camelo e com um cinto de couro em redor de seus
lombos, e comia gafanhotos e mel silvestre,
e pregava,
dizendo: Após mim vem aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno
de, abaixando-me, desatar a correia das sandálias.
Eu, em
verdade, tenho-vos batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito
Santo.
Marcos
1: 1-8
O
texto deste Segundo Domingo de Advento começa com uma expressão central que às
vezes corremos o risco de passar apressadamente por ela. O texto faz referência
ao Evangelho
de Jesus, o Cristo, Filho de Deus. Esta é a resposta à pergunta que o
Evangelho conforme Marcos busca responder: Quem é Jesus? Quem ele é, como
viveu, morreu e ressuscitou.
Naquela época, o evangelho amplamente divulgado era o de César, imperador romano. A boa nova mais propagada era de que César era divino, que com sua força militar estabeleceria a paz, a Pax Romana, fundada na exploração através de pesados tributos e da repressão pela força militar. Já de início o Evangelho conforme Marcos corajosamente declara que não é deste evangelho de César que está se falando, mas do Evangelho de Jesus, o Cristo, o Filho de Deus, que veio inaugurar o Reino de Deus, Reino de amor, partilha, cuidado, onde misericórdia e verdade se encontram, justiça e paz se beijam (Sl 85: 10).
Hoje ainda somos convidados a buscar esta
resposta (sobre quem é Jesus) nos Evangelhos, para não sermos confundidos por
falsos messias ou por visões distorcidas sobre Jesus, que mais se assemelham ao
César das armas e opressão que ao Jesus que ensinava a amar até mesmo os
inimigos, que andava entre os empobrecidos e enfermos, cuidando e curando, que
acolhia e abençoava crianças e mulheres, que trazia vida e salvação.
Nosso
texto fala sobre o anúncio da chegada do Messias, Jesus, e sobre como esperar esta
chegada. O profeta João Batista é o mensageiro. Para falar de João, o
texto evoca os profetas: Malaquias (Ml 3.1) (envio do anjo/mensageiro para
preparar o caminho) e Isaías (Is 40: 3, voz que clama: (no deserto) preparem o
caminho do Senhor). João, no texto, é
esta voz que clama no deserto: preparem o caminho do Senhor. Não só clama no
deserto, mas, conforme o texto de Isaías 40.3, o desafio é que se prepare o
caminho no deserto. Clamor e preparo no deserto.
Deserto
que é muito rico de significados. Deserto: lugar-símbolo da escassez, da sede,
da adversidade, desolação e que é também, no contexto bíblico, rememorando o
Antigo Testamento (o Êxodo, a saída do Egito), onde o povo liberto é chamado a
aprender a viver em liberdade, a estabelecer relações justas e fraternas, a
estabelecer uma Aliança com Deus, a experimentar que o Deus Libertador é o Deus
que protege e cuida do seu povo.
É
no deserto que João Batista vai anunciar a chegada do Messias Jesus. Importante
lembrar que João Batista era filho de sacerdote, Zacarias, sua mãe, Isabel. Os
sacerdotes tinham vida privilegiada. João Batista abre mão das comodidades,
status e privilégios de filho de sacerdote para ir ao deserto anunciar a
chegada do Messias Jesus. E, por incrível que pareça, as pessoas carentes de um
encontro com Deus saíam das cidades, do centro, para serem batizadas por ele no
deserto.
Será que Deus também não nos desafia a encontrá-lo
e anunciá-lo no deserto? Em que desertos?
Nas periferias de nossas cidades, nos arredores de nossas comunidades,
nas (às) pessoas ao nosso redor? Esta pandemia que atravessamos não é um tempo
desértico onde também temos a possibilidade de nos deixar transformar por Deus,
frutificar e florescer no deserto?
João,
em seu clamor, pregava o batismo de conversão para o perdão dos pecados. Preparar
o caminho do Senhor passa pela conversão. Mudança de vida. Conversão
que passa pelo arrependimento. Arrependimento que passa por reconhecer nossas
falhas. O que não é fácil, é incômodo, desconfortável. Mas é libertador, é
transformador.
João Batista não só pregava a conversão, a
mudança profunda no modo de viver, mas dava exemplo do que pregava com seu
estilo de vida. Seu ministério no deserto, seu modo de se vestir (semelhante
aos profetas), sua alimentação simples expressavam uma coerência entre palavra
e ação. E nós, de que precisamos nos converter para preparar o caminho, o
encontro com o Senhor?
Em
que medida somos coniventes, apoiamos ou participamos dos pecados de nossa
sociedade que ficaram ainda mais evidentes nestes tempos de pandemia? O
racismo, a violência contra as mulheres, a desigualdade e egoísmo que produzem
fome e miséria? Em que medida precisamos converter nossos corações do espírito
de rivalidade, de vaidades vãs, do afã de ter (base do consumismo), da
indiferença ou impaciência com o outro? Advento é tempo de conversão.
Advento também é tempo de esperança! João não pregava
a si mesmo. Anunciava aquele que é bem mais forte, de quem ele não era digno
nem de desamarrar as sandálias. João reconhecia sabiamente que é preciso
diminuir para que Cristo cresça. E anunciava Jesus, o Messias, o Filho de Deus,
que vem! Que veio, que virá no fim dos tempos (para estabelecer seu Reino
Eterno) e que vem no nosso cotidiano e caminha conosco todos os dias até a
consumação dos séculos!
Nossa
esperança se renova em Jesus, Aquele que vem e que com seu Espírito Santo faz
nascer um novo homem, uma nova mulher, nova criação! Nossa esperança se anima e
fortalece n’Aquele que vem e que é nosso Bom Pastor, que nos protege e cuida em
meio aos desertos da vida, inclusive neste deserto pandêmico com seus riscos e
incertezas, que nos consola e sustenta, nos pega no colo nos momentos de
tristeza, refrigera nossa alma e nos guia mansamente a verdes pastos e águas
tranquilas.
Que
neste Advento possamos preparar o caminho do Senhor Jesus, nos deixando
transformar por seu Espírito, dando frutos dignos de arrependimento e
conversão. Que possamos renovar nossa esperança em Jesus, o Filho de Deus, que
faz “de lugares secos mananciais”. Que Deus nos abençoe e ajude, amém!
Augusto
Amorim Júnior
Presbítero
da IPU de Itapagipe, Salvador – BA
06/12/2020
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