quinta-feira, 19 de março de 2020

Ele nos amou primeiro – nos reconciliou!


Por: Cláudio Márcio Rebouças da Silva[1]

Há uma herança da Reforma Protestante do século XVI, extremamente relevante, a qual precisa ser discutida e atualizada no século XXI, ou seja, me refiro a teologia da justificação. O que é isso? Ora, em um contexto social em que a ideia de Deus gerava sociabilidades, valores e modos de ser, o medo de Deus e a tentativa de (por méritos próprios) alcançar êxito era muito comum.
Desta forma, pensava-se que a salvação era obra humana e deveria apenas cumprir um conjunto de regras e dogmas como sinais dos desígnios de Deus. Assim sendo, “comprava-se a salvação” através do grande mercado da fé. Será que não há alguma semelhança com que encontramos hoje no Brasil e na América Latina realizado majoritariamente por grupos neopentecostais? Ora, quem ariscaria dizer que a “teologia da prosperidade” não funcionou conosco?

Com efeito, a chave interpretativa bíblica da justificação aponta para o grande e real amor de Deus revelado através de Jesus de Nazaré na cruz do calvário. “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 João 4.19). “Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, fui eu que os escolhi para que vão e deem fruto e que esse fruto não se perca. Isso a fim de que o Pai lhes dê tudo o que pedirem em meu nome”. (João 15:16)
Devemos nos lembrar que “porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Efésios 2:8). E ainda: “porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (João 3:17). De fato, “não por causa de atos de justiça por nós praticados, mas devido à sua misericórdia, ele nos salvou pelo lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tito 3:5).
Em um contexto sócio-histórico em que comercializam a fé, anunciar que Deus não deseja nosso dinheiro é uma mensagem profética. “Sacrifício e oferta não quiseste; os meus ouvidos abriste; holocausto e expiação pelo pecado não reclamaste.  Então disse: Eis aqui venho; no rolo do livro está escrito de mim:  Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração” (Sl 40.6-8).
            É importante salientar que mesmo sendo justificados por Jesus de Nazaré, isso não significa que não enfrentaremos dias difíceis. A Bíblia nos ensina que: “neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo" (João 16.33). A experiência da fé nos garante que: “porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, 39 nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!” (Rm 8.38-39).
Desta maneira, seguimos perseverando no caminho.  Como sugere Raul Seixas: “tente outra vez!” Somos carregados por utopias esperançosas e revolucionárias, assim sendo, Mario Quintana nos lembra: “se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las...Que tristes os caminhos, se não fora. A presença distante das estrelas!”.
Caminhamos com fé em razão de sairmos da morte e termos experimentados a vida em abundância. “Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10.10b). Jesus de Nazaré é a nossa razão de viver. Ele nos reconciliou! A espiritualidade reformada e ecumênica nos transforma de dentro para fora. Essa é a nossa tarefa como IPU, ou seja, despertar nos outros o sagrado que há dentro delas, uma vez que, cada um(a) deve encarar seus próprios desafios e superá-los. Como assinalou Rubem Alves: “quem tenta ajudar uma borboleta a sair do casulo a mata. Quem tenta ajudar um broto a sair da semente o destrói. Há certas coisas que não podem ser ajudadas. Tem que acontecer de dentro para fora”. Como anda sua vida? Deus pode te ajudar você. Ouça o convite de Jesus no evangelho: “vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11:28-30).
            Meus irmãos e minhas irmãs, pensar a abordagem teológica da justificação é saber que somos amados por Deus e que temos nova vida através da fé em Jesus (o camarada de Nazaré). Entretanto, saber que o mérito da salvação não é nosso, ou seja, não é fruto de nossas ações, não significa levar uma vida sem regras, sem metas e de qualquer jeito. Suspeito que é muito ao contrário, pois, a compreensão da graça de Deus deve nos levar a um compromisso radical com o projeto do Reino instaurado por Jesus Cristo. Sigamos firmes! Este é o tempo da reconciliação. “Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida! Não apenas isso, mas também nos gloriamos em Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, mediante quem recebemos agora a reconciliação” (Romanos 5:10-11).

 Como abaliza são Francisco de Assis:

Senhor, fazei-me instrumento da vossa paz
Onde houver ódio, que eu leve o amor
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde houver discórdia, que eu leve a união
Onde houver dúvida, que eu leve a fé
Onde houver erro, que eu leve a verdade
Onde houver desespero, que eu leve a esperança
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar do que ser consolado
Compreender do que ser compreendido
Amar que ser amado
Pois, é dando que se recebe
É perdoando que se é perdoado;
E morrendo que se vive
Para a vida eterna





[1] Prédica (Ele nos amou primeiro – nos reconciliou!) feita em 15-03-2020 na IPU de Muritiba-BA baseado em Romanos 5.1-11.


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