Por: Cláudio Márcio Rebouças da
Silva[1]
O Dia Mundial de Oração (DMO) nos
convida a uma reflexão profunda, pois, se com o período Quaresmal
devemos fazer um autoexame, silêncio, orações e jejuns, o (DMO) propõe tudo isso
somando ainda com uma práxis emancipadora. O tema escolhido para este ano foi
baseado em: "Levante-se! Pegue a sua maca e ande" (Jo 5.8). Assim
sendo, lembremos do cantor de reggae do Recôncavo baiano, Edson Gomes, ao
dizer: “e tens o direito de ser livre – ninguém neste mundo pode impedir,
porém, não espere por esse direito: acorde, levante e lute”.
Com efeito, João 5.2-9 trata do
Jesus que cura, ou seja, a cura física de um paralítico que sofria bastante
tempo. Ao curar-salvar, uma nova realidade era estabelecida. O mundo se torna
mais alegre e cheio de esperança. Jesus de Nazaré, então, é aquele que aponta o
caminho e cura-salva as pessoas marginalizadas no caminho.
O que esse texto pode nos ensinar? O
(DMO) coloca os nossos olhos no Zimbábue localizado no continente africano,
todavia, poderíamos também pensar na América Latina com suas opressões e dores,
isto é, suas estruturas de morte que produzem na vida de homens e mulheres uma
espécie de “paralisia”. Novamente, a imagem do texto bíblico é real, uma vez
que, encontramos essas pessoas no caminho que precisam despertar para uma nova
vida. “Eis que faço novas todas as coisas” (Apocalipse 21:5) Há, sem
dúvida alguma, dificuldades experimentadas em nosso cotidiano e, pela fé, somos
desafiados(as) a escutar Jesus de Nazaré nos perguntando: “você deseja ser
curado(a)?”
Carregamos sonhos e utopias.
Almejamos as promessas do Senhor de novos céus e nova terra, entretanto,
para além de uma perspectiva que joga tudo para um futuro incerto que
milagrosamente se resolverá, o cristão ecumênico assume a responsabilidade de
salgar e iluminar o mundo. Obedecer a Jesus e fazer brotar o Evangelho é, de
algum modo, criar um “alvoroço no mundo”. É viver a fé, a esperança e o amor. É
compreender (como aponta Belchior) que “amar e mudar as coisas me interessam
mais”.
É importante ressaltar que a face de
Deus a qual devemos conhecer é a de misericórdia. A prática da compaixão em
alteridade e empatia. Até porque “não há outra forma de falar sobre Deus a
não ser falando sobre nós mesmos. Deus é um espelho no qual a imagem da gente
aparece refletida com as cores da eternidade" (Rubem Alves). Estive nu
e não me vestiste? Estive com fome e não me alimentou? Fui preso e você não foi
me visitar?
Devemos
nos lembrar que quando pensamos o contexto africano ou latino americano, não
podemos esquecer de um projeto de poder político-religioso chamado de
colonização (em tom de cristianização) que controlou corpos e mentes com
algemas reais e ideológicas (imagéticas) gerando dor, lágrima e muito sangue.
Entretanto, engana-se que não
percebe a fé, a luta, a resistência, a ousadia, a rebeldia de sujeitos sociais
oprimidos e marginalizados. A história tem muitos lados, mas, quem a patrocina?
Também
não se pode esquecer que olhando para os profetas bíblicos, o camarada Jesus de
Nazaré, é preciso uma tomada de posição. Devemos escolher a vida! Vida plena
para os que estão jogados no caminho. A tradição política-religiosa que não
garante direitos iguais para pessoas distintas deve ser denunciada e abolida.
Será
que as igrejas têm revelado essa face amorosa de Jesus para pessoas excluídas?
Será que ao invés de escutar e perguntar ao próximo sobre suas necessidades,
nós já oferecemos respostas a perguntas que não foram feitas? O que significa
(para cada grupo paralisado especificamente) toma tua cama, levanta e anda?
Suspeito
que para além das igrejas cristãs que se sentem única e exclusivas para o
anúncio desse imperativo: pegar, levantar e ir para os outros (sobretudo não
cristãos), talvez, o movimento também possa ser inverso, ou seja, é possível
que Jesus tenha dito às igrejas através de instituições e ou sujeitos sociais
improváveis: “queres ser curada?”. Com efeito, “o Antigo Testamento é
cortado por uma briga entre dois grupos: os profetas e os falsos profetas. Os
profetas viam as feridas e espremiam seu pus fedorento. Os falsos profetas viam
as feridas, mas sabiam que os feridentos não gostavam de mostrá-las. Assim, em
vez de espremer as feridas, besuntavam-nas com mel perfumado e diziam: “Está
tudo bem!”. O povo amava os falsos profetas e odiava os profetas"
(Rubem Alves).
Uma nova humanidade é estabelecida
pelas boas notícias trazidas por Jesus de Nazaré, logo, quem tem ouvidos para
ouvir, ouça: levanta e anda!
Bom texto! Excelente reflexão!
ResponderExcluirGrato minha amiga.
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